A origem da Willys remete ao ano de 1903, quando foi produzido o primeiro furgão de entregas da marca Overland, em Indiana nos Estados Unidos. Em 1907 a empresa foi adquirida por John North Willys, um empreendedor, comerciante e fabricante de bicicletas. Dois anos mais tarde, a empresa passava a se chamar Willys Overland, e após sucessivas, fusões e crises chegaria aos anos 1930 com o lançamento de um carro leve o modelo 77, veículo que este que deu folego para a empresar se manter viva. Em 1940, depois de vencer a concorrência pública do governo americano para produzir um veículo militar leve com tração 4X4, a Willys logo se tornaria sinônimo de Jeep, cujo sucesso tanto no front como no mercado civil dispensa maiores apresentações, recebendo assim os recursos necessários para o investimento em novos produtos.
No Brasil, desde a década de 1920 a marca estava representada por importadores independentes, e depois do fim da Segunda Guerra Mundial destacaram-se empresas como a Jeepsa e a Agromotor em São Paulo e a Gastal no Rio de Janeiro. A Willys Overland do Brasil foi fundada em 1952, com sua planta fabril localizada na cidade de São Bernardo do Campo – SP. A montagem do Jeep Universal importado começou no Brasil em 1954, e teve sua produção local se iniciando dois anos depois dentro do Plano de Manufatura do Governo Federal. A produção do motor nacional BF-161 foi iniciada no ano de 1958 a partir de componentes fundidos na fábrica de Taubaté.
Logo após a Segunda Guerra Mundial, em 1946 a empresa apresentava ao mercado sua perua desenvolvida como um desdobramento do Jeep CJ-2A, do qual emprestava toda a mecânica, incluindo o motor de 4 cilindros de 2,2 litros e 64 cv, a transmissão de 3 marchas e a imbatível tração 4X4, dispunha de uma carroceria muito superior a do Jeep, tanto em dimensões quanto em comodidade, com teto rígido, amplo espaço interno, boas acomodações para 6 ocupantes e superior isolamento termo acústico. Ademais, tinha um estilo atrativo e de grande personalidade, diferente de tudo que havia no mercado. Em 1950 o motor Go Devil de válvulas no bloco deu lugar ao novo Hurricane de mesmo deslocamento, mas com válvulas de admissão no cabeçote, permitindo uma melhoria no desempenho global.
Lançada no Brasil em 1957, a Rural foi o segundo produto da Willys no pais, e um dos poucos da primeira onda de nacionalização da então jovem indústria automobilística brasileira. A Rural foi renovada para a temporada de 1960, com uma reestilização exclusiva para o mercado brasileiro. Faziam parte do novo pacote a nova frente com para-lamas envolventes, capô mais baixo e nova grade do radiador dividida em forma trapezoidal. O visual se tornava mais leve também graças ao para-brisa em uma peça única, em lugar do antigo esquema duplo em “V”. Mecanicamente, a Rural brasileira tinha os mesmos componentes do Jeep, começando pelo motor BF-161 de 2.638 cm3 e 91 cv. Com 6 cilindros em linha, válvulas de admissão no cabeçote e escape no bloco (arranjo em “F”), o propulsor era conectado a uma transmissão de 3 velocidades e uma caixa de transferência reduzida, a tração 4X4 operava em tempo parcial. Em 1959 a Willys introduziu uma versão 4X2 da Rural.
No começo da década de 1960, a Willys era uma das grandes montadoras no País, com uma engenharia forte e dinâmica, sempre imprimindo melhorias em seus produtos, como exemplo deste processo podemos citar a inclusão de 12 volts que aposentava o anterior de 6 volts. Depois de 1967 o ano em que foi formalizada a aquisição do controle da Willys-Overland pela Ford brasileira, os refinamentos continuariam a ser implementados, motivados por padronizações, reduções de cust e também pelos rígidos processos de aprovação (sign-off) da engenharia da adquirente. Para os usuários que exigiam mais desempenho, em 1968 a Rural passou a contar com dois motores opcionais o 2600 de 112 cv, e o 3000 com 134cv, visando assim competir com a Veraneio da Chevrolet.
Apesar do grande sucesso em vendas o Brasil e o mundo viviam o impacto da crise do petróleo iniciada em 1973. Da noite para o dia, o preço dos combustíveis disparou e o público começou a considerar a economia de gasolina como fator primordial na hora da compra de um carro novo. Mesmo com um enorme número de clientes fiéis e prelo atraente, a Rural revelava a exaustão nas vendas, a partir da segunda metade daquela década. Com isso a Ford decidiu encerrar a produção da Rural no início de 1977, nesta ocasião, somavam-se mais de 182 mil exemplares comercializados em vinte anos de produzidos no Brasil.
Emprego no Brasil.
No início da década de 1960, a Willys Overland do Brasil (WOB) já estava consolidada como a principal montadora de automóveis brasileira. Além disso, gozava da confiança dos militares ao fornecer aos mesmos, principalmente ao Exército, os Jeeps 1/4 Ton CJ-5. Ao lançar a Rural reestilizada em 1960 e posteriormente a Pick-up Willys, despertou-se um especial interesse por esta última por parte do comando do exército em adquiri-las para substituírem as antigas Dodge WC recebidas dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e cujas peças de reposição eram cada dia mais difíceis de se encontrar no mercado devido a sua obsolescência Além do mais, a nova Pick-up da Willys podia desempenhar muitas funções e ainda contribuir para a nacionalização da frota.
Testes começaram a ser realizados pela fábrica em conjunto com o Exército e após as modificações necessárias à militarização do modelo, o mesmo entrou em operação em fins de 1961. O novo veículo foi denominado Camioneta Militar Jeep Willys 3/4 ton 4x4. Um fato curioso é que esse modelo foi o primeiro veículo militar brasileiro exportado, quando as primeiras 150 unidades foram entregues ao governo Português em 1962, para equipar unidades de paraquedistas e usados em missões nas colônias portuguesas da época, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Timor.
A pick-up da Willys, derivada do sedan Rural, teve várias funções. Algumas unidades foram equipadas com suporte de metralhadora 12,7 e 7,62mm, canhão 0,50mm sem recuo e outros modelos foram usados para transporte e disparo de foguetes, sendo estes denominados de M-106.O Exército Brasileiro também utilizou outras versões derivadas da pick-up civil, como cabine dupla, ambulância e furgão, mas isso é assunto para outro post. A camioneta militar era equipada com o motor Willys BF-161 6 cilindros a gasolina e 2.600cc, algumas unidades foram equipadas com o motor 3.000 cc a partir de 1967 e a partir de 1975 vinha equipada com o motor Ford OHC 4 cilndros 2.300 cc. A caixa de câmbio era de 3 marchas, com a 1ª seca até 1965. Em 1964, algumas unidades chegaram a ser equipadas com o motor diesel Perkins 4 cilindros, mas o mesmo não obteve êxito pois era inadequado ao câmbio original, que por seu torque elevado quebrava demais. O painel das camionetas militares era diferente, semelhantes ao Jeep, o teto de aço foi removido, foi instalado o quadro de para-brisas semelhante ao Jeep militar, novas portas, bancos, alavanca de marchas e tração no assoalho.
As principais modificações implementadas referiam se ao chassi e para-choques reforçados, com e sem guincho mecânico marca Ramsey (opcional), ganchos dianteiros, grade de proteção dos faróis, farol de aproximação instalado sobre o paralamas dianteiro esquerdo, remoção das portas, teto e para-brisas originais, pneus 750x16, chave militar de iluminação de 3 estágios, para-choques militares tipo "meia lua" na traseira, duas lanternas militares traseiras, duas anilhas traseiras, gancho G militar para reboque, tomada elétrica para reboque militar, seis refletores na caçamba, capota militar de lona, bancos de madeira na caçamba na versão de transporte, bancos dianteiros individuais revestidos em lona, pá e machado militar fixados atrás dos bancos na cabine, aros de roda 2 polegadas mais largos.
A denominação da pick-up militar Willys foi alterada em 1969 quando a Ford do Brasil, que já havia adquirido a WOB em 1967, adotou a marca Ford para todos os seus produtos (antes era Ford-Willys). A nova nomenclatura do modelo passou a ser Camioneta Militar 3/4 ton 4x4 Ford F-85. Apesar das denominações, o modelo recebeu um engraçado apelido, pelo qual muitos só conhecem o veículo por ele: "Cachorro Louco". Ninguém ao certo sabe a origem deste apelido, mas existe a versão de que ao entrar pela primeira vez em um quartel paulista, um Sargento, surpreso, teria dito " parece um cachorro louco", talvez pela sua silhueta baixa e reta quando o quadro do para-brisas está abaixado. Algumas unidades ainda estão na ativa no Exército. Outro nome popular para o modelo era Jipão Militar 3/4 ton.
Este modelo militarizado da Willys e posteriormente Ford, foi de significativa importância para o desenvolvimento da moto-mecanização militar brasileira e serve de exemplo para os dias atuais, na tentativa de ajudar a diminuirmos a dependência externa na área de veículos militares. Exemplo inclusive seguido, com méritos, pelas extintas Engesa e Gurgel, e agora pela Agrale.